Localização
Local: Aldeia Tapera (Pankararu), Jatobá/PE
Entrevista com os integrantes da Banda de Pífano da Aldeia Tapera: Enisio Paulo dos Santos, José Eleilson dos Santos, Anderson Manoel da silva Santos e Paulo João dos Santos
A Banda de Pífano da Aldeia Tapera, no território indígena Pankararu, é composta por pai, filhos e primo. Eles aprenderam a tocar de maneira autodidata, recentemente, após terem ganhado de presente uma parelha de pífanos que um tio fez e enviou de São Paulo. Tocam na capela da aldeia em memória do beato cego que passou parte da vida pedindo esmolas para que se erigisse o templo em prol do padroeiro e de sua memória. Uma particularidade dessa banda é a forma com que aprenderam a tocar os instrumentos. Também ‘de ouvido’, como é o caso de todos os pifeiros do sertão, aqui o ‘mestre’ foi vídeos na internet e um CD que Seu Ângelo, da vizinha Aldeia Brejo dos Padres, lhes ofereceu. Apesar de garantirem um repertório estritamente religioso dentro dos ritos e de tocarem por devoção, aprenderam e tocam os mais variados gêneros musicais.
Enisio:
“Essa banda começou mais ou menos em 2011. Ela se formou através desses pífanos aqui, que a gente ganhou de um tio da gente, irmão do meu pai, aqui. Ele morava em São Paulo, também ele tocava pífano. E daí surgiu a iniciativa da gente começar a formar essa banda. Que aqui na nossa comunidade não tinha. E nós temos o novenário de São José, né, que essa capela aqui é de São José, então sentimos a necessidade de termos uma banda de pífano pra tocar aqui nas nossas novenas. Toda vez temos que se deslocar pra outras comunidades atrás de banda de pífano pra tocar nas novena e era muito difícil, né? Aqui geralmente, esse instrumento pífano é muito difícil de encontrar alguém que toque. E daí nós tivemos a iniciativa de formar o nosso grupo. Praticamente a gente aprendemos só. Só na força de vontade, ouvindo, assistindo algum vídeo na internet.”
“A novena aqui é no mês de março. Dia 19, que é dia de São José. Então todos os anos é realizado essa novena aqui. E todas as noites temos o novenário, que é rezado. Cada noite, são 9 noites, cada noite tem uma família responsável por contratar a gente pra tocar. E daí tem o almoço, o café e o jantar. E é convidada a comunidade, é disponível pra quem quiser ir, almoçar e jantar na casa do noiteiro, que chama noiteiro. E daí acontecem as festas assim, desse modo.”
“A banda de pífano que tinha antes da gente, todos os anos ele vinham pra cá, que era a banda lá do Brejo dos Padres, Aldeia Brejo dos Padres, que era com Seu Ângelo. Então a partir do momento que a gente formou essa banda eles deixaram de vir tocar aqui e daí a gente seguiu aqui com os novenários.”
“Essa capelinha aqui ela é vista como um patrimônio histórico, né? Essa capelinha ela surgiu através de um senhor que morava nessa casa aqui do lado, que chamava José. Conhecido como José de Nãna. Ele era deficiente visual, aí antigamente não tinha essa capelinha, ele realizava essas novenas na casa dele. Também nesse tempo não existia energia elétrica, era só candeeiro, velas. Mas ele conseguia reunir várias pessoas pra ir rezar essa noveninha na casa dele. Sempre o santinho, São José. Aí então ele foi pedindo ajuda. Saindo em Jatobá, Paulo Afonso, Petrolândia, ele sozinho. Ninguém ajudava ele. Então daí ele falou que queria construir uma capelinha pra quando ele morresse, lembrasse dele. Até então – isso aqui é um túmulo – que ele pediu pra quando ele morresse, fosse colocado ele aí. Mas só que houve uma reunião, familiares e tudo e não quiseram colocar. Mas esse daí é um túmulo. Aí então ele construiu essa capelinha, até hoje tá aqui, né? E essa pintura aqui, sempre geralmente é reunido a comunidade, se junta pra pintar, voluntariamente. Telhado também. Também a menina que zela aqui é voluntária, não recebe nada por isso. Ela mora aqui, vizinha, de vez em quando ela vem, limpa e cuida também.”
Músicos e Bandas
