Instrumentos

INSTRUMENTAÇÃO E INSTRUMENTOS MUSICAIS DAS BANDAS DE PÍFANO
Por Daniel de Lima Magalhães

Banda de Pífanos de Santa Bárbara

A formação instrumental essencial das bandas de pífanos traz quatro integrantes: dois pífanos (que formam a parelha de pífanos ou pareia), um zabumba e uma caixa. Esta é a formação de 75% das cerca de 30 bandas que foram mapeadas nos sertões do São Francisco, Itaparica, Araripe e extremo oeste de Pernambuco. Entre as bandas que fogem a esta regra, seja por costume regional ou formação local específica, pudemos observar o acréscimo de um triangulo (Bodocó, Timorante e Projeto Fulgêncio, em Santa Maria da Boa Vista), de um pandeiro (Belém de São Francisco), de pratos (Afrânio) e numa foto antiga, vimos um reco-reco de mola entre os instrumentos da Banda Raça Negra Boavistana, também de Santa Maria da Boa Vista. Metade dos grupos tem zabumba e caixa industrializados, com o bojo e aros de metal e pele sintética, além do sistema de tarraxas para arrochar as peles. A outra metade tem estes mesmos instrumentos feitos artesanalmente, com bojo e aro de madeira, pele de couro e sistema arrochar as peles através de cordas. Por vezes são instrumentos que passam de geração em geração, alguns tendo mais de 100 anos de uso.

Em relação aos pífanos, o PVC de 20 mm é o material da quase totalidade deles, a não ser em Araripina e Moreilândia, onde ainda é possível achar algum bambu ou taboca nas matas. Vimos também alguns pífanos de metal, embora somente em Travessão do Caroá, em Carnaíba, tenhamos visto pifeiros tocando efetivamente pifes de alumínio, no caso, pelas mãos de Dezinho e seu filho. Entre os de PVC, metade é da cor marrom, um terço é de cor branca e um quinto dividide-se entre um caso de PVC preto, um de PVC laranja e outros três locais que têm os pifes de PVC pintados com ou sem motivos ornamentais.

É estranho constatar o desaparecimento praticamente integral, a não ser por locais muito remotos e de difícil acesso, do bambu e da taquara dos sertões de Pernambuco. Hoje, quase 100% dos grupos utilizam o PVC ou o metal como alternativa. Apenas tocadores mais velhos guardam referência de pífanos de taboca, que em geral eram feitos tipicamente acrescidos de uns anéis de latão, como ainda hoje se faz em alguns locais, como Caruaru. Mesmo entre os mais idosos há aqueles que não guardam referência alguma de pífanos de taboca, visto que este material já teria desaparecido de algumas áreas já há várias décadas. Os pífanos de PVC, conforme os relatos dos tocadores, começaram a surgir por volta da década de 1960 iniciando o que hoje caracteriza-se como uma suplantação completa da taboca em seu favor.

Na aldeia Lagoinha, Território Indígena Pankararu, em Petrolândia, os pifeiros também têm costume de usar gaitas, fabricadas localmente pelo tocador Zé de Hormino. Estas, porém, no mesmo sistema de 6 furos do pífano e, não, com os sete furos de digitação, normal nas gaitas. Ressalte-se a proximidade com a área geográfica da gaita (Bahia e Sergipe), uma vez que estamos aqui muito próximos das margens do Rio São Francisco. Outra variante de pife observada foi em Afrânio, onde o tocador Zé Manuel adaptou um bocal de flauta doce, passando o pife a funcionar como uma gaita, embora, como no caso anterior, mantendo seis furos de digitação. Esta inovação se deveu, conforme relato do tocador, ao uso de prótese dentária, que o impedia de tocar na embocadura do pife.

A maioria dos pifes estão afinados em lá ou si bemol e questões de tonalidade dos pifes parece obedecer a padrões regionais. Assim, nas regiões mais centrais desta área, a preferência é pelos pifes em si bemol. Em Tacaratu e nos municípios limítrofes com o Piauí, os pífanos são principalmente em lá. No Araripe, mais para o lado do Ceará, os pífanos ficam menores, com alguns lugares em si, dó e, também, si bemol. Em três municípios ribeirinhos do São Francisco, encontramos pifes em lá bemol. E por fim, na aldeia Tapera, Pankararu, município de Jatobá, ouvimos uma única parelha que tocava com pifes em sol.

 

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